NO CONTROLE DA PRÓPRIA VIDA

Marcos Pontes
05 /03/2008

Uma das mais notáveis características dos seres humanos é a capacidade de raciocinar e agir influenciados (ou não) por emoções. Pareceu estranho? Com duplo sentido?

Emoções são parte natural da nossa vida e intrinsecamente conectadas com os nossos "sensores de bem estar". Elas foram desenvolvidas através da nossa evolução como ferramentas para a nossa sobrevivência dentro do ambiente que nos circundava, sempre tendo em vista as nossas necessidades e desejos.

Nesse contexto, um evento externo ocorrendo em nosso ambiente pode "disparar" uma determinada emoção. Algumas vezes, na verdade muitas vezes, não é necessário nenhum evento externo para sentirmos uma determinada emoção. Nossas próprias mentes podem desencadear uma sequência de idéias que vão gerar essas emoções.

Aqui notamos um ponto bastante interessante. Embora eventos externos aparentemente possam desencadear emoções, na verdade, mesmo nesses casos, a emoção, propriamente dita, é gerada pelo mesmo princípio interno, isto é, pela maneira que interpretamos o evento em nossas, mentes. Ou seja, as emoções são geradas sempre pelo desencadeamento de idéias disparado por um pensamento ou pela interpretação de um evento percebido pelos nossos sentidos.

Portanto, nenhum evento externo, ou pessoa, pode nos forçar a sentir alguma emoção. É a nossa interpretação daquele evento, ou comportamento, que irá "gerar" uma determinada emoção que, por sua vez, irá desencadear uma outra sequência de idéias que pode amplificar ou eliminar aquela emoção. Para nossa melhor performance, podemos interferir racionalmente na construção da primeira sequência de idéias (antes da emoção), ou na segunda (após a emoção).

Lembre-se que a nossa atitude é um reflexo das nossas idéias. Mais ainda, as nossas ações são reflexos da nossa atitude. Mais ainda, os resultados que temos hoje, ou que vamos conseguir no futuro são diretamente ligados às nossas ações e decisões.
Ou seja, tudo, na realidade, começa com um pensamento e uma emoção.

Contudo, é clara a prioridade natural que imediatamente surge depois de um evento e/ou seu respectivo pensamento desencadeador e a influência das emoções em nosso comportamento posteiror.

No caso de emoções boas, isso é bom e produtivo. Gostaríamos de amplificar e extender a sensação agradável. No caso de emoções ruins, queremos nos livrar o mais rápido possível, visto que geralmente reduzem nosso desempenho e bem estar.

Em um vôo espacial, por exemplo, não podemos deixar nossas mentes "vagarem" desencadeando pensamentos de possíveis falhas, explosões, etc. Existem muitas dessas possibilidades, é claro, mas o nosso foco deve ser nos fatos e não nas possibilidades e devaneios paranóicos. Usamos foco nos procedimentos normais para evitar idéias ruins e o foco no treinamento de emergência para nos livrarmos das eventuais emoções.

Um exemplo típico na vida de todos nós é a sensação de "perda de controle" que de tempos em tempos surge em alguma área importante das nossas vidas. Por exemplo, se você "sentir" que a sua vida é controlada por dívidas, pelo seu chefe, ou por um relacionamento ruim, ou pelo comportamento de outras pessoas, etc, o desencadeamento de pensamentos ruins disparado pelo processo gera o chamado "stress", manifestado por emoções como raiva, ansiedade, medo, insegurança, etc. Se você não toma nenhuma atitude para corrigir o problema, com o tempo surgem sintomas facilmente observáveis, como insônia, depressão e até mesmo doenças sérias.

Para solucionar o problema, você precisa sentar, ser honesto com você mesmo, buscar a raiz desse sentimento de falta de controle, definir um plano de ação e corrigir o problema. Deixar de se sentir vítima e tornar-se responsável pela sua vida.

Como isso tudo começa com uma idéia, um pensamento, uma semente boa ou ruim na sua mente, fica evidente que é essencial aprendermos a controlar nossos pensamentos. Primeiro, para reduzir o desencadeamento de pensamentos que geram emoções ruins. Segundo, caso a nossa interpretação de um evento tenha disparado uma emoção ruim (e isso é plenamente natural e inevitável em 100% dos casos), para rapidamente racionalizar a situação e trazer nossos pensamentos de volta para o equilíbrio estável.

Ou seja, auto-disciplina, auto-controle, auto-conhecimento, paz interior, tudo começa com assumir o controle dos nossos próprios pensamentos.

Tipicamente existem dois modos de se reassumir o controle de uma situação: planejar e usar o necessário para mudar a situação, ou simplesmente deixar a situação para trás e abandonar (realmente, sem pensar no assunto depois!).

Algumas vezes o melhor a fazer é apenas abandonar. Se você já deixou um emprego desagradável ou um relacionamento turbulento, você sabe o que estou dizendo. De repente, você nota que o que o perturbava não era o relacionamento em si, mas o fato de querer tentar mantê-lo por orgulho, ou outra razão qualquer.

Para decidir o que fazer, é preciso saber claramente "qual é o seu objetivo maior". A congruência ou não daquela "tentativa de controle" com esse objetivo vai determinar a sua melhor escolha.

 
Marcos Pontes
Colunista, professor e primeiro astronauta profissional lusófono a orbitar o planeta, de família humilde, começou como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP), para se tornar oficial aviador da Força Aérea Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA).
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